sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O que deveriam ser os lixeiros?

Feito em guache no papelão tamanho A4
"O nome Gari é uma homenagem ao francês Aleixo Gary, que se destacou na história da limpeza da cidade do Rio de Janeiro, assinando contrato, em 11 de outubro de 1876, com o Ministério Imperial para organizar o serviço de limpeza da cidade; o serviço incluía remoção de lixo das casas e praias e posterior transporte. Permaneceu no cargo até o vencimento do contrato em 1891 deixando o primo, Luciano Gary, em seu lugar".

Por: Braun

Não existe lixo. Existem objetos em inércia. (Wikipédia)

Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!

Por: Rob

Trés belle! Adoro as diferentes lentes que a gente tem. (diz Rob)

Os verdadeiros responsáveis pela saúde pública são categoricamente os lixeiros! Eles fazem o trabalho sujo (desculpem..) que poucos fariam. É uma ocupação nada honrosa pelo senso comum. Nas escolas, a criançada tira chacota de quem tira notas baixas vai ser gari, ou lixeiro. Mas o lixo é uma parte de nós. É uma parte que nos resta e queremos nos livrar. A sua história diária está no lixo, até a sua trajetória de vida. Uns reciclam, outros não estão nem aí. Colocamos o lixo p'ra fora, pois é duro demais ver uma parte, ou representação de nós mesmos feder na nossa frente.

Os lixeiros lidam com nossas partes e tem intimidade com elas. Pegam-nas pelo saco e jogam na boca faminta do caminhão que fede pelas ruas da cidade. Vivem perigosamente e ganham uma merreca. Agora imaginem se todos os lixeiros do Brasil (imaginem também do mundo, o que é mais engraçado) entrassem em greve, ou mesmo desaparecessem. Menos de um mês seria um caos! Os médicos, chamados de doutores e sendo a camada profissional mais bela e mais cobiçada/respeitada da sociedade morreriam aos montes. E como curaríamos os doentes? Uma nova peste assolaria as principais cidades e uma corrente de mortes intensas seria manchete em todos os jornais. Estou sendo fatalista? Então deixe acumular três meses de lixo nos seu quarto. Creio que rapidamente você vai precisar de muito soro e tratamento médico, talvez até uma amputação (brincadeira).

Agora pensemos em como os lixeiros são tratados. É só olhar pela rua, o perigo que correm e o cheiro que exalam! Esses verdadeiros filósofos e conhecedores da alma (que é o resto que jogamos fora toda semana) - Nietzsche e Schopenhauer iriam gostar dos lixeiros - não são tão quistos quanto deveriam ser, não são nem lembrados. Você sabe qual o dia do lixeiro?

Não, né? Mas você sabe o dia do Natal, certo? Quem você acha que faz mais para a saúde pública: Jesus ou os lixeiros? Se você acha que é Jesus, então vamos dar férias vitalícias aos lixeiros.

Com certeza teremos a volta do Messias, pois sem os lixeiros o apocalipse é certo!

O que deveriam ser os lixeiros? Eles deveriam ser chamados de doutores, e cumprimentados toda a vez que passassem pelas ruas. Deveriam ser reconhecidos pela profissão mais honrosa e importante da saúde pública, os mestres da cidadania! Creio que uma faculdade de lixeiros é dispensável, mas o respeito que eles deveriam ter não, de fato não. Você deve a sua pele limpa, sua casa sem ratos e sem um infestamento de baratas, a eles. Os lixeiros deveriam ser os doutores. Eles deveriam ter esse título e com salários honrosos. Prêmios e homenagens no dia dos lixeiros. Assim deveriam ser os lixeiros. Portanto, enquanto não é assim, pense bem quando um deles te pedir a caixinha de natal e você pensar em recusar uma contribuição.

Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!

Por: JP

- E aí mano, relaxa, é só um trampo como qualquer outro, ninguém vai te ver, ninguém vai falar com você, você só tem que correr e enfiar tudo no caminhão.

Acordei 5h da matina, frio da porra. A Shirley nem me viu levantar, mas também, deixa ela lá coitada, isso não é hora de gente acordar. Me vesti na surdina, comi uma bolacha com água e pronto. Busão lotado, ninguém se olha, tem uns bêbados voltando do rolê, uns bêbados indo trabalhar, é foda, sair de casa a essa hora só com um incentivo. Um cara lá da vila que me falou desse trampo, levei um currículo e depois falei com um cara lá, sei lá se era o chefe, o cara só falava de sindicato, papo de merda, só quero tirar um troco limpo e voltar pra Shirley, voltar com alguma coisa pra nega não me tirar, não me esquecer. Colei no portão e tinha uma banca, uns 40 caras, todos grandes, fortões, olhei pras minhas mãos e pensei "fudeu, vou me fuder até pegar força pra essa porra!" Acendi um cigarro e me encostei em qualquer muro, parece que eu sou um fantasma, ninguém me olhou na cara. Logo um negão chega, pede fogo, passo o fogo, ele acende um beck, oferece, perguntei "como é que você consegue trampar fumado?", ele respondeu na lata "como você trampa careta?", "é meu primeiro dia", "então dá uns pega, o dia vai fluir melhor". Conversamos um pouco, o Abdias é da leste, sustenta três irmãos com o trampo, faz uns extra de carpinteiro, mano firmeza.

Logo abrem o portão, todo mundo entra, na miuda, fazem uma fila e entram no vestiário, vestiário tosco, cheiro escroto, tudo sujo pra caralho, todo mundo quieto, só umas piadas saindo daqui e dali, nada demais. Todos saem, os caminhões vão chegando e um mano com um braço só vai falando os nomes, daí os nomes sobem em cada caminhão e vazam. Depois eu veria que a gente só tem nome alí, em casa, na vila e alí. Quando chegou o meu nome corri pra frente sozinho, os outros dois do meu caminhão não foram, fiquei com vergonha, um cara se ligou e já gritou "o novato vai sozinho, tá empolgadão, ele vai dar conta", gelei, queria ir pra casa trombar a Shirley que nem deve ter acordado ainda...

Na rua é foda, peguei um bairro de boy qualquer, zona oeste acho, ninguém me via, se não tivesse tão na correria acho que passavam por cima os filhodaputa, foda. Dia interminável do caralho... puta que pariu, mas que jeito, é só mais um trampo, mais um corre, acho que merecia ganhar mais, acho que merecia uns "bom dia", acho que merecia um respeito, mas esse é só mais um trampo, mais um corre, quero chegar logo em casa pra trombar minha Shirley, queria mais tempo com ela, queria fazer uns pivetes, pra abraçar quando chegar em casa, quero a Shirley, mas ainda tenho que terminar esse trampo, falta só mais um quarteirão.

Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!

Por: Fábio

Após uma sublevação dos lixeiros na cidade...

greves, mortes, pessoas pagas especialmente para dar cabo no lixo. serviços privados na coleta e destino do lixo. uma nova função de viver, não mais em torno da produção - mas na desprodução e acomodamento dos residuos.

Seriam os doutores do lixo. especialistas naquilo que ninguém quer. Graduação - pós-toda uma área da ciencia - a gestão de resíduos! Recorde de inscrição nos vestibulares, carreira sólida da classe burguesa, que começaria a enfiar a mão na merda pra manter o status. sistemas complexos de cruzamento de dados sobre o que é produzido e o que é despojado. controle total sobre sua produção de lixo. censos mensais de desperdício.

Os velhos coletores serão nós, cidadãos comuns, correndo atrás de um caminhão programado com data e hora certa pra passar pela nossa rua.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

[OFF] Exercício de escrita

Calendário Asteca

Exercício de escrita feito com canetão embebido em Velho Barreiro em 24 azulejos da parede da sala do JP.
Creio que seria demais pensá-lo como o que deveria ser da narrativa.


A força coesa de uma brisa. Uma história do fim ao início.


Texto por: JP, Rob e Fábio



- Acorda. Vai à porta e vê.

- Um cara atira e foge.

- Ele está chocado. Acabara de chegar.

- Ouve passos distantes e alguém está caído no chão.

- Ele está cansado e confuso. Respira fundo.

- Vê sangue na escada.

- A luz está fraca e ele decide atravessar o hall.

- O neon da fachada é ridículo.

- Ele se dá conta que está são e salvo.

- Atravessa a praça e diz: - A criança chora e a mãe não vê.

- Tropeça e corre em direção à luz.

- Saca do bolso o bilhete e vê o endereço.

- Muitos carros impossibilitam de chegar ao outro lado.

- O charme dela ainda o desnorteia.

- Eles se beijam.

- Ela lhe diz ao ouvido.

- "Na verdade, a vingança é um prato que se come quente."

- Ele conta tudo para ela.

- Ela dá um sorriso amarelo. Nada mais importa.

- Ele faz uma proposta.

- Ela o olha diretamente na face.

- Ela acende um cigarro e diz: - Seu puto!

- "Ela continua linda", ele pensa.

- Acorda. Vai à porta e vê.



Texto por: JP, Rob e Fábio


A força coesa de uma brisa. Uma história do início ao fim.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cigarro

Pra epílogo, Grunjão
"Tu não fazes distinção,
És do plebeu e do nobre,
És do rico e és do pobre,
És da roça e da cidade.
Em toda a extensão professas
O direito de igualdade"
(Bernardo Guimarães, "Ao cigarro" [canção], Rio de Janeiro, 1864)

Por: Braun


Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!


Eu não tenho mais nada a declarar, estoy a brisar na discoteca (says Rob)


O cigarro tem um problema. Ele não dá nenhuma brisa! LSD, Santo Daime e San Remy, inclusive o paloso álcool dão uma distorcida das percepções. O cigarro apenas substitui aquilo que já tínhamos nas conexões neurais. Seretoninas, endorfinas, outras niñas são tomadas de lugar pelo rouba-loucuras do cigarro. E ele é impiedoso. Nas miúdas da química neural, o cigarro impõe nicotina nas relações internas de uma pessoa. Quando fumamos temos o princípio de privacidade quebrado, ou melhor, roubado. Mesmo entrando em total discordância nesse texto com Proudhon. Tentem colocar no google as dúvidas da sua vida: tenho em foco a brisa que o cigarro não pode dar. O cinema fez o cigarro, as revistas, o glamour e os anos 50 p'ra frente.Creio que seria necessário reinventar o cigarro, ou até mesmo desconstruí-lo. O cigarro deveria trazer um convite à expansão da mente, à novos modos de percepção. O cigarro deveria ser um convite ao universo paralelo.

Como uma viagem interna. A válvula de escape dos avatares de carne e osso pós-modernos, que alguns dizem que é o ser humano ainda. O que falta no cigarro é o ser-além, a brisa-mor e ainda legalizada, que faz feliz os capitalistas e os consumidores. Alguns me chamarão de alienado, alienista, ou formador de opiniões apáticas, mas a minha brisa só consiste em trazer mais brisas, fazê-las brotar da mente daqueles nervosinhos que fumam o antigo e anacrônico cigarro. O cigarro como ele é já está ultrapassado. Os filmes dos anos 50 são classificados na locadora como clássicos (eufemismo de velharia, ou TCM), não mais dão tesão como antes. Também, Constantine foi deturpado no filme, dá até vontade de parar de fumar.

Mas como vejo o cigarro como um processo e criação cultural, ele tem o seu valor. As substâncias rouba-seretonina do atual cig, os venenos de rato e as fotinhas escrotas das embalagens poderiam ser substituídas por substancias firmeza que trariam as mais belas brisas criativas do homem. (Ou você acha que a Escola de Frankfurt se formou com pirulitos?) O cigarro deveria ser algo além do terreno, das substancias de morte já conhecidas, falta mística no cigarro, falta a derradeira brisa, falta cânhamo, THC, falta Bob e Jáh! Realmente o cigarro deveria ser a maconha.

Por: Robson Ashtoffen


Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!


Caraya!!!! Eu ainda não terminei! termino até o final do dia...(says Fábio)


Com os olhos de uma criança esperta

"Porque fumamos e inalamos
uma porção razoável de fumaça
que junto de tanta bagaça
acabará com os nosso querido pulmão!
Se eu enfiasse a minha cara
em um escapamento qualquer
não teria eu a mesma sensação?"


Enquanto fumamos, prazerosamente o cigarro exala sua fumaça azulada que destoa em um plano lúgubre e nos deixa sentir aquela sensação de ranço que refila nosso pulmão em microsegundos e volta a superfície graciosamente preenchendo ao todo aqueles minutos pós-pré-qualquer-coisa-assim-que-acendemos-um-bastonete-nicotinoso-do-tinhoso.

Deixaria de ser um hábito que se torna um vício para ser mais uma convenção no seu dia-a-dia. Tão natural como escovar os dentes, cortar as unhas e limpar a cera do ouvido. Ou você poderia imaginar um formulário de admissão para um emprego em que tivesse esses seguintes campos a serem preenchidos: Você toma banho? Quantas vezes por dia você escova seus dentes? Seria muito estranho para mim...deixemos o cigarro e os fumantes em paz, coitados, ambos já possuem muitos problemas.

Se inventamos o fogo a caralhadas de anos atrás, nada mais óbvio para um homem pensar em uma maneira de absorver e controlar este fogo em um pequeno shot de papel. Imaginem: o mesmo fogo que assa nossas presas e proporciona um gosto novo ao rango pré-histórico, poderia ser utilizado junto a qualquer coisa a ser queimada e aspirado diretamente pra dentro de nóis! Não parece uma idéia simples?!

Pois é... porque não encontramos uma maneira de fumar coisas mais saudáveis ao invés dos fluídos de baterias que a indústria põe em nossos cigarretes? Porque não substituir o alcatrão que só nos ferra e não colocar uma parada singela e deliciosa pra gente queimar?

As divagações devem ser curtas e se não for assim, então não sei.

Por: Fábio Albuquerque


Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! [


Agora que os quatro escreveram a gente publica no blog??? (says JP)

Você sai nervoso, olha para os lados e está tudo turvo, não pensa direito, não fala, respiração curta, galopante. Olha pra trás e a porta fechada te chama a derrubá-la, "filha da puta!" você pensa, "filha da puta" você murmura, "filha duma puta!!" você grita... parece que a porta vai se abrir a qualquer momento... você fica louco pra chutar a porta e depois que ela cair chutar quem sair de dentro dela... você olha, mira, toma distância então vira as costas e pensa "vou fumar um cigarro antes que eu faça alguma merda."

Cigarro mata, adoece, apodrece, tira o fôlego, está cada vez mais caro, dá mau-hálito, estraga os dentes, incomoda os outros, queima os outros in the dancefloor, mas também te dá tempo para pensar, joga fumaça no seu cérebro e desanuvia as idéias, as ninas do cigarro acalmam, os cinco minutos out there te dão a chance de uma nova perspectiva, um novo respiro sujo e malcheiroso, uma segunda chance de não por tudo a perder, de não precipitar, uns instantes antes da aposta... no tempo de um trago, no tempo de um cigarro.

Vicio social, vicio psicomotor, mania, compulsão, WM 270 - Substance-related disorders... cigarro é tudo isso e sem dar brisa.

Um caretinha é um freio de arrumação.

Por: João Pedro

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Uma pequena intro.

O primeiro post desse espaço não deveria ser diferente em nenhum sentido. É apenas a explicação sucinta da proposta que vocês encontrarão por aqui.
Certa feita, eu e meu amigo Abraão Antunes, compartilhávamos um bom dia em nosso escritório ao ar livre - a famosa Praça do Relógio - na Cidade Universitária. Bem acompanhados por cigarrinhos vários e uma lariquinha suave, nos submetemos as tormentas daquilo que meu caro amigo João Pedro chama carinhosamente de "chuvas de parpites" e construímos uma idéia simples: a realização de uma empreitada editorial, cujo nome foi eleito na base da diferenciação do nome de uma coleção conhecida de todos.
Na real, havia mais idéias da nossa especulação editorial no ar, mas isso eu posso deixar para um outro dia.
A importância é só pontuar a escolha do nome e seu intuito.

O que deveria ser
tem a pretensão de compilar idéias acerca de um tema específico - assim como a famosa coleção supracitada - e trazer um novo conceito a este universo analisado. Simples, uma utopia!

De início, escolhemos o tema cigarro (já que estávamos fumando uns - ou alguns) como o carro abre alas da coleção. Durante os meses que se passaram, tentamos espalhar as idéias a nossos amigos para que selecionassem um tema e discorresem a respeito. Alguns temas como hinos de futebol, coquinho e dispnéia foram sugeridos e esperamos ver algum dia estas e outras "coisas" escritas por aqui.

Acho que deu pra sacar qual é a desse espaço, não?!
Bom, agora vamos ao que interessa!