quinta-feira, 25 de junho de 2009

O que deveria ser discotecar

Fábio

Independente da maneira de ser executado, o ato de discotecar é simples e tem apenas a pretensão de fazer com que as pessoas dancem e fiquem suadas durante o resto da balada. Há quem critique os métodos e aparelhagens utilizadas para essa tarefa, mas como não podemos parar no tempo (a música para continuar viva não respeita o suporte em que está apreendida) seguem abaixo minhas 5 dicas para ser um bom DJ:

1º > É saber exatamente o que tocar no lugar certo e na hora certa. Se não nasceu com o dom, tcháu! Ou tente e veja seu set acabar sem nunca conseguir fazer a disco perfeita!
2º > Não dar brecha pra ninguém vacilar no beat durante a dança, remelexo, maxixe ou mesmo o banguear na pista. Caso contrário, saia de cena e vá tocar seus lounge na casa do caralho!
3º > Imprescindível obter a satisfação total de seu público. Auto-explicativo.
4º > Não farofar no som, independente dos pedidos acalorados via mensagens escritas em editores de texto SMS nos celulares quase atirados a sua cabine pelos suplicantes inthadancefloor.
Lembre-se: NUNCA tocar músicas por pedidos de comemorações de aniversário, bodas ou qualquer tipo de comemoração! A aparelhagem e o poder de alterar o som ambiente é de sua maior e extrema prioridade no momento, portanto, não se deixe levar.

Ainda sobra fôlego pro último toque para os incautos no flow:
Ser o "Personal Jéza da rapeize" na radiola!



JPeg


Isso tudo é uma grande tolice, todas as vezes – Diria satisfeito o tio Carlos.


Não acordou exatamente diferente. Não acordou com um humor especial, tinha pressa, só isso. Abriu as cortinas enormes que comprou uns dias antes, brancas e transparentes, quase um véu. Tomou banho pensando em mil coisas, que deveriam acontecer naquele dia, mais ou menos como sempre. Outras exatamente como sempre. No metrô leu o último do Nooteboom, se coçando por dentro, mal notando o mundo lotado e barulhento em volta. Encontra um conhecido e já solta “notou alguma coisa diferente em mim?”, ele engole seco e procura com os olhos um em cada direção, até ameaça esticar o braço para sentir a diferença mas logo desiste. Abre a boca mesmo sem nada dentro ainda e ela o interrompe com um riso largo e satisfeito “tô brincando, eu não faria uma perguntar dessas a essa hora” e sai mandando beijo e rindo da cara dele.


O dia passa voando, a noite entra, o telefone dá uma trégua sem antes marcar uma balada com as amigas de sempre. Volta pra casa, banho, música, comida rápida, algumas providências, uma olhada no relógio, uma no espelho e tchau.


Quase meia noite e nada se transformou ainda, ouve Killers meio bored até que ouve uma voz familiar num intervalo riscado do disco. Era com ela, ri de nervoso, de ansiedade, de um monte de cócegas estranhas vindas dos olhos dos outros mas também da barriga. Pega na bolsa um Ipod, arregala o olho pra amiga como quem diz “tu podia ter me avisado”, as pessoas de pé na pista quase reclamam, se não fosse hoje reclamariam, ela olha o computador, as pickups e manda ver, não sabe se precisa soltar a mão do Klimt pra pegar a do Pollock, deixar o Clash pelo Interpol ou o Kerouak pelo Rubens Paiva, ou pelo Kundera, o Smiths, o Deftones, o Depeche Mode pelo Radiohead, pelo cara do blog vermelho ou pela Spalding tocando Hancock, ela passeia livre tocando as mãos de até ali e vendo a dança continuar e as referências tendo filhos ou morrendo, vendo as chances e areias correndo ao largo duma avenida alegre e agora mais leve, a cada riff, a cada refrão, contralto, solo solta um pesar, um medo, uma insegurança, um pesar que vira suor na testa dos outros, da sua. Olha pro relógio e já é hora de descer, “How soon is now” pergunta e sai com um riso largo e satisfeito.



Rob Ashtoffen


É como um performer sem apenas coordenando a performance dos outros e variados sons, bandas e solistas. Sempre tocando hits. O discotecar é uma administração de discos e de músicas, sempre sortidas para dançar. Disco está intrinsecamente ligado a dança. Não importa o estilo, importa o ritmo. E o ritmo tem de ser dançante, ou que pelo menos dê p'ra se mexer os quadris. Mas a discotecagem foi deturpada pelos tempos. Antes o DJ (Disc-jóquei) trabalhava com os bolachões, depois migrou p'ros CDs e agora trabalha como Chaplin apertando parafu...botões do seu Ipod. Onde está a aura do vinil? e do DJ? Discotecar é artesanal. Há uma seleção de cada som, cada bolachão, e era possível até fazer scratches . Mas e o Ipod? Matou a discotecagem? Claro que eu estou brincando de Escolinha de Frankfurt com pirulitos, e falando de aura e blá, blá, blá, mas sob esse viés o discotecar deveria ser um trabalho xamânico, um ritual, onde todos adorariam o mito daquilo que seria tocado. Quando vamos a uma festa, não sabemos qual música virá depois. E o que viria depois, sempre uma nova profecia do xamã DJ. Ele coordenaria os discos como cartas de tarô. Imaginem uma festa com Gandhi, Zé Pilintra e o Papa (podem convidar um rabino também). Imaginem um sincretismo de sons, de épocas e de mitos num só ritual. Isso deveria ser discotecar.



Braun


Vamos pra etimolorgia: discoteca vem do grego, (embora eu não consiga visualizar o Aristóteles remexendo junto com o mestre Sócrates), sendo a junção de dois termos: diskos, que é disco mesmo, e theke, ‘armário ou caixa’ – que também deu origem a palavras como biblioteca. Um bom DJ, então, antes de tudo deve ter uma boa ‘discoteca’, mapeando bem a miríade sonora presente e passada advinda das mentes mais insanas e debéis da indústria fonográfica. Certo que pra isso, é preciso ser eclético e aberto a todas as possibilidades musicais, pois mais importante que o flow dele é o do público do saloon. Saka?


PS. Se quiser saber mais, clique nos links abaixo


Definição de DJ na Wikipedia

Em portuga - http://pt.wikipedia.org/wiki/DJ

Em inglês – http://en.wikipedia.org/wiki/Disc_jockey


Pra ser um DJ de verdade, um programinha que ajuda

Baixe http://www.baixaki.com.br/download/Virtual-DJ.htm

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O que deveria ser laranja


Braun

Sobre o que deveria ser, não sei bem, escutem o que os outros abaixo pensaram. Sei que o que ela não deveria ser: outra cor.

Rrá, Rrá, Rrá!!!

Rob

A laranja é redonda e detém o espectro da cor que a caracteriza pelo nome. Ela tem genes, assim nos ensinara o velho monge Mendel. Sabemos que podemos modificá-los. E modificamos. E agora? Ela tem suco.

Depois os diabéticos e açúcar-fóbicos.

Rrá, Rrá, Rrá!!!

Fábio

São Paulo - algum dias desses...

F - Estou com la seca!! Que vontade de tomar o suco dessa laranja...
JP - Faz assim (descasca a laranja com os dentes e começa a devorar a laranja do bandejão).
F - Pããtz! Que trabalho. Vou ficar com a mão toda zuada... preguiça de subir lá depois e lavar a mão. Seria mais firmeza se eu fizesse um furo e a parada saísse que nem um suco. Já sei! vou mudar o gene da laranja!
R - Gangsta!
F - Imagina só: ao invés de descascar ou usar aquelas paradas pra espremer - é só alterar o gene, produzir de um modo diferente e a laranja vira tipo uma laranja-suco, morô?!
A - Cala-a-boca-seu-Féla!
F - Orras, é sério! Ia ser bem mais fácil.
A - Cala-a-boca! Adorno ia...
R - Gangsta!

Com a mudança do gene da laranja, iremos tomar o suco direto da fruta. É o mesmo princípio do coco (uma casca resistente e o suco por dentro), mas com algumas diferenças - onde é preciso crescer um puta coqueiro e depois lá no topo, despontar um belo coco - a laranja já sairá da terra no formato certo. Semelhante a uma lata de refrigerante: abriu e tomou. Sem sementes, sem bagaço chato, sem ferpinhas nos dentes. Uma revolução na natureza.

A ciência já avançou ao montes para propiciar uma facilidade dessas. Se eles confinam animais e injetam toda a sorte do mundo nesse pobres seres - porque não posso agir experimentalmente sobre a laranja inanimada? Deixo muito bem as outras laranjas existirem, não quero o fim delas - só quero uma laranja-suco. Será que é pedir muito?!

Sei das implicações que causaria, da ganância das corporações em patentear essa empreitada... Adorno se revolve no túmulo ao ouvir tal pataquada. Não quero complicar o mundo e nem ganhar ações na bolsa com isso. Só quero fazer isso em casa. Só preciso pensar no mecanismo coco aplicado na laranja.... Uma simples cutucada com qualquer objeto pontiagudo facilmente romperá a casca e nos deixará apenas com a graça de apreciar um bom gole do suco. Sem gasto desnecessário de energia motora, elétrica ou uso de apetrechos plásticos vendidos em programas de TV.

Lembre-se de tudo isso quando estiver preguiçosamente sentado a sombra em um dia quente com uma antiquada laranja em mãos e nenhum objeto pontiagudo ou cortante por perto.

Rrá, Rrá, Rrá!!!

JP

Pra isso existe a Embrapa. Quer dizer, ela tá aí, reconhecida como um dos centros de pesquisa em "comida" mais importantes do mundo, então... porquê não?

Acho que seria mais útil para a humanidade se fizessem uma laranjeira que dê laranjas suculentas em solos áridos, desfavorecidos de nutrientes, como os do semi-árido nordestino ou da África... porquê não?

Uma boa seria fazer laranjas quadradas, pra facilitar o transporte e baratear os custos logisticos, assim a laranjada ficaria mais barata pra todo mundo. Trigo em espigas também seria uma boa.

Cadê a Embrapa quando precisamos dela?

Rrá, Rrá, Rrá!!!

Maristela

Mudar os genes da laranja seria a oportunidade para eliminar aqueles malditos caroços. Não daria pra plantar depois, mas isso é um mero detalhe. Talvez, indo mais longe, pudéssemos fazer com que ela parecesse limão e tivesse gosto de tamarindo.

Rrá, Rrá, Rrá!!!

Ursão

Grrrrhh! Uuuhhhhrrr! (pega uma laranja e a devora instantaneamente)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O que deveriam ser os lixeiros?

Feito em guache no papelão tamanho A4
"O nome Gari é uma homenagem ao francês Aleixo Gary, que se destacou na história da limpeza da cidade do Rio de Janeiro, assinando contrato, em 11 de outubro de 1876, com o Ministério Imperial para organizar o serviço de limpeza da cidade; o serviço incluía remoção de lixo das casas e praias e posterior transporte. Permaneceu no cargo até o vencimento do contrato em 1891 deixando o primo, Luciano Gary, em seu lugar".

Por: Braun

Não existe lixo. Existem objetos em inércia. (Wikipédia)

Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!

Por: Rob

Trés belle! Adoro as diferentes lentes que a gente tem. (diz Rob)

Os verdadeiros responsáveis pela saúde pública são categoricamente os lixeiros! Eles fazem o trabalho sujo (desculpem..) que poucos fariam. É uma ocupação nada honrosa pelo senso comum. Nas escolas, a criançada tira chacota de quem tira notas baixas vai ser gari, ou lixeiro. Mas o lixo é uma parte de nós. É uma parte que nos resta e queremos nos livrar. A sua história diária está no lixo, até a sua trajetória de vida. Uns reciclam, outros não estão nem aí. Colocamos o lixo p'ra fora, pois é duro demais ver uma parte, ou representação de nós mesmos feder na nossa frente.

Os lixeiros lidam com nossas partes e tem intimidade com elas. Pegam-nas pelo saco e jogam na boca faminta do caminhão que fede pelas ruas da cidade. Vivem perigosamente e ganham uma merreca. Agora imaginem se todos os lixeiros do Brasil (imaginem também do mundo, o que é mais engraçado) entrassem em greve, ou mesmo desaparecessem. Menos de um mês seria um caos! Os médicos, chamados de doutores e sendo a camada profissional mais bela e mais cobiçada/respeitada da sociedade morreriam aos montes. E como curaríamos os doentes? Uma nova peste assolaria as principais cidades e uma corrente de mortes intensas seria manchete em todos os jornais. Estou sendo fatalista? Então deixe acumular três meses de lixo nos seu quarto. Creio que rapidamente você vai precisar de muito soro e tratamento médico, talvez até uma amputação (brincadeira).

Agora pensemos em como os lixeiros são tratados. É só olhar pela rua, o perigo que correm e o cheiro que exalam! Esses verdadeiros filósofos e conhecedores da alma (que é o resto que jogamos fora toda semana) - Nietzsche e Schopenhauer iriam gostar dos lixeiros - não são tão quistos quanto deveriam ser, não são nem lembrados. Você sabe qual o dia do lixeiro?

Não, né? Mas você sabe o dia do Natal, certo? Quem você acha que faz mais para a saúde pública: Jesus ou os lixeiros? Se você acha que é Jesus, então vamos dar férias vitalícias aos lixeiros.

Com certeza teremos a volta do Messias, pois sem os lixeiros o apocalipse é certo!

O que deveriam ser os lixeiros? Eles deveriam ser chamados de doutores, e cumprimentados toda a vez que passassem pelas ruas. Deveriam ser reconhecidos pela profissão mais honrosa e importante da saúde pública, os mestres da cidadania! Creio que uma faculdade de lixeiros é dispensável, mas o respeito que eles deveriam ter não, de fato não. Você deve a sua pele limpa, sua casa sem ratos e sem um infestamento de baratas, a eles. Os lixeiros deveriam ser os doutores. Eles deveriam ter esse título e com salários honrosos. Prêmios e homenagens no dia dos lixeiros. Assim deveriam ser os lixeiros. Portanto, enquanto não é assim, pense bem quando um deles te pedir a caixinha de natal e você pensar em recusar uma contribuição.

Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!

Por: JP

- E aí mano, relaxa, é só um trampo como qualquer outro, ninguém vai te ver, ninguém vai falar com você, você só tem que correr e enfiar tudo no caminhão.

Acordei 5h da matina, frio da porra. A Shirley nem me viu levantar, mas também, deixa ela lá coitada, isso não é hora de gente acordar. Me vesti na surdina, comi uma bolacha com água e pronto. Busão lotado, ninguém se olha, tem uns bêbados voltando do rolê, uns bêbados indo trabalhar, é foda, sair de casa a essa hora só com um incentivo. Um cara lá da vila que me falou desse trampo, levei um currículo e depois falei com um cara lá, sei lá se era o chefe, o cara só falava de sindicato, papo de merda, só quero tirar um troco limpo e voltar pra Shirley, voltar com alguma coisa pra nega não me tirar, não me esquecer. Colei no portão e tinha uma banca, uns 40 caras, todos grandes, fortões, olhei pras minhas mãos e pensei "fudeu, vou me fuder até pegar força pra essa porra!" Acendi um cigarro e me encostei em qualquer muro, parece que eu sou um fantasma, ninguém me olhou na cara. Logo um negão chega, pede fogo, passo o fogo, ele acende um beck, oferece, perguntei "como é que você consegue trampar fumado?", ele respondeu na lata "como você trampa careta?", "é meu primeiro dia", "então dá uns pega, o dia vai fluir melhor". Conversamos um pouco, o Abdias é da leste, sustenta três irmãos com o trampo, faz uns extra de carpinteiro, mano firmeza.

Logo abrem o portão, todo mundo entra, na miuda, fazem uma fila e entram no vestiário, vestiário tosco, cheiro escroto, tudo sujo pra caralho, todo mundo quieto, só umas piadas saindo daqui e dali, nada demais. Todos saem, os caminhões vão chegando e um mano com um braço só vai falando os nomes, daí os nomes sobem em cada caminhão e vazam. Depois eu veria que a gente só tem nome alí, em casa, na vila e alí. Quando chegou o meu nome corri pra frente sozinho, os outros dois do meu caminhão não foram, fiquei com vergonha, um cara se ligou e já gritou "o novato vai sozinho, tá empolgadão, ele vai dar conta", gelei, queria ir pra casa trombar a Shirley que nem deve ter acordado ainda...

Na rua é foda, peguei um bairro de boy qualquer, zona oeste acho, ninguém me via, se não tivesse tão na correria acho que passavam por cima os filhodaputa, foda. Dia interminável do caralho... puta que pariu, mas que jeito, é só mais um trampo, mais um corre, acho que merecia ganhar mais, acho que merecia uns "bom dia", acho que merecia um respeito, mas esse é só mais um trampo, mais um corre, quero chegar logo em casa pra trombar minha Shirley, queria mais tempo com ela, queria fazer uns pivetes, pra abraçar quando chegar em casa, quero a Shirley, mas ainda tenho que terminar esse trampo, falta só mais um quarteirão.

Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!

Por: Fábio

Após uma sublevação dos lixeiros na cidade...

greves, mortes, pessoas pagas especialmente para dar cabo no lixo. serviços privados na coleta e destino do lixo. uma nova função de viver, não mais em torno da produção - mas na desprodução e acomodamento dos residuos.

Seriam os doutores do lixo. especialistas naquilo que ninguém quer. Graduação - pós-toda uma área da ciencia - a gestão de resíduos! Recorde de inscrição nos vestibulares, carreira sólida da classe burguesa, que começaria a enfiar a mão na merda pra manter o status. sistemas complexos de cruzamento de dados sobre o que é produzido e o que é despojado. controle total sobre sua produção de lixo. censos mensais de desperdício.

Os velhos coletores serão nós, cidadãos comuns, correndo atrás de um caminhão programado com data e hora certa pra passar pela nossa rua.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

[OFF] Exercício de escrita

Calendário Asteca

Exercício de escrita feito com canetão embebido em Velho Barreiro em 24 azulejos da parede da sala do JP.
Creio que seria demais pensá-lo como o que deveria ser da narrativa.


A força coesa de uma brisa. Uma história do fim ao início.


Texto por: JP, Rob e Fábio



- Acorda. Vai à porta e vê.

- Um cara atira e foge.

- Ele está chocado. Acabara de chegar.

- Ouve passos distantes e alguém está caído no chão.

- Ele está cansado e confuso. Respira fundo.

- Vê sangue na escada.

- A luz está fraca e ele decide atravessar o hall.

- O neon da fachada é ridículo.

- Ele se dá conta que está são e salvo.

- Atravessa a praça e diz: - A criança chora e a mãe não vê.

- Tropeça e corre em direção à luz.

- Saca do bolso o bilhete e vê o endereço.

- Muitos carros impossibilitam de chegar ao outro lado.

- O charme dela ainda o desnorteia.

- Eles se beijam.

- Ela lhe diz ao ouvido.

- "Na verdade, a vingança é um prato que se come quente."

- Ele conta tudo para ela.

- Ela dá um sorriso amarelo. Nada mais importa.

- Ele faz uma proposta.

- Ela o olha diretamente na face.

- Ela acende um cigarro e diz: - Seu puto!

- "Ela continua linda", ele pensa.

- Acorda. Vai à porta e vê.



Texto por: JP, Rob e Fábio


A força coesa de uma brisa. Uma história do início ao fim.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Cigarro

Pra epílogo, Grunjão
"Tu não fazes distinção,
És do plebeu e do nobre,
És do rico e és do pobre,
És da roça e da cidade.
Em toda a extensão professas
O direito de igualdade"
(Bernardo Guimarães, "Ao cigarro" [canção], Rio de Janeiro, 1864)

Por: Braun


Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!


Eu não tenho mais nada a declarar, estoy a brisar na discoteca (says Rob)


O cigarro tem um problema. Ele não dá nenhuma brisa! LSD, Santo Daime e San Remy, inclusive o paloso álcool dão uma distorcida das percepções. O cigarro apenas substitui aquilo que já tínhamos nas conexões neurais. Seretoninas, endorfinas, outras niñas são tomadas de lugar pelo rouba-loucuras do cigarro. E ele é impiedoso. Nas miúdas da química neural, o cigarro impõe nicotina nas relações internas de uma pessoa. Quando fumamos temos o princípio de privacidade quebrado, ou melhor, roubado. Mesmo entrando em total discordância nesse texto com Proudhon. Tentem colocar no google as dúvidas da sua vida: tenho em foco a brisa que o cigarro não pode dar. O cinema fez o cigarro, as revistas, o glamour e os anos 50 p'ra frente.Creio que seria necessário reinventar o cigarro, ou até mesmo desconstruí-lo. O cigarro deveria trazer um convite à expansão da mente, à novos modos de percepção. O cigarro deveria ser um convite ao universo paralelo.

Como uma viagem interna. A válvula de escape dos avatares de carne e osso pós-modernos, que alguns dizem que é o ser humano ainda. O que falta no cigarro é o ser-além, a brisa-mor e ainda legalizada, que faz feliz os capitalistas e os consumidores. Alguns me chamarão de alienado, alienista, ou formador de opiniões apáticas, mas a minha brisa só consiste em trazer mais brisas, fazê-las brotar da mente daqueles nervosinhos que fumam o antigo e anacrônico cigarro. O cigarro como ele é já está ultrapassado. Os filmes dos anos 50 são classificados na locadora como clássicos (eufemismo de velharia, ou TCM), não mais dão tesão como antes. Também, Constantine foi deturpado no filme, dá até vontade de parar de fumar.

Mas como vejo o cigarro como um processo e criação cultural, ele tem o seu valor. As substâncias rouba-seretonina do atual cig, os venenos de rato e as fotinhas escrotas das embalagens poderiam ser substituídas por substancias firmeza que trariam as mais belas brisas criativas do homem. (Ou você acha que a Escola de Frankfurt se formou com pirulitos?) O cigarro deveria ser algo além do terreno, das substancias de morte já conhecidas, falta mística no cigarro, falta a derradeira brisa, falta cânhamo, THC, falta Bob e Jáh! Realmente o cigarro deveria ser a maconha.

Por: Robson Ashtoffen


Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá!


Caraya!!!! Eu ainda não terminei! termino até o final do dia...(says Fábio)


Com os olhos de uma criança esperta

"Porque fumamos e inalamos
uma porção razoável de fumaça
que junto de tanta bagaça
acabará com os nosso querido pulmão!
Se eu enfiasse a minha cara
em um escapamento qualquer
não teria eu a mesma sensação?"


Enquanto fumamos, prazerosamente o cigarro exala sua fumaça azulada que destoa em um plano lúgubre e nos deixa sentir aquela sensação de ranço que refila nosso pulmão em microsegundos e volta a superfície graciosamente preenchendo ao todo aqueles minutos pós-pré-qualquer-coisa-assim-que-acendemos-um-bastonete-nicotinoso-do-tinhoso.

Deixaria de ser um hábito que se torna um vício para ser mais uma convenção no seu dia-a-dia. Tão natural como escovar os dentes, cortar as unhas e limpar a cera do ouvido. Ou você poderia imaginar um formulário de admissão para um emprego em que tivesse esses seguintes campos a serem preenchidos: Você toma banho? Quantas vezes por dia você escova seus dentes? Seria muito estranho para mim...deixemos o cigarro e os fumantes em paz, coitados, ambos já possuem muitos problemas.

Se inventamos o fogo a caralhadas de anos atrás, nada mais óbvio para um homem pensar em uma maneira de absorver e controlar este fogo em um pequeno shot de papel. Imaginem: o mesmo fogo que assa nossas presas e proporciona um gosto novo ao rango pré-histórico, poderia ser utilizado junto a qualquer coisa a ser queimada e aspirado diretamente pra dentro de nóis! Não parece uma idéia simples?!

Pois é... porque não encontramos uma maneira de fumar coisas mais saudáveis ao invés dos fluídos de baterias que a indústria põe em nossos cigarretes? Porque não substituir o alcatrão que só nos ferra e não colocar uma parada singela e deliciosa pra gente queimar?

As divagações devem ser curtas e se não for assim, então não sei.

Por: Fábio Albuquerque


Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! Rrá! [


Agora que os quatro escreveram a gente publica no blog??? (says JP)

Você sai nervoso, olha para os lados e está tudo turvo, não pensa direito, não fala, respiração curta, galopante. Olha pra trás e a porta fechada te chama a derrubá-la, "filha da puta!" você pensa, "filha da puta" você murmura, "filha duma puta!!" você grita... parece que a porta vai se abrir a qualquer momento... você fica louco pra chutar a porta e depois que ela cair chutar quem sair de dentro dela... você olha, mira, toma distância então vira as costas e pensa "vou fumar um cigarro antes que eu faça alguma merda."

Cigarro mata, adoece, apodrece, tira o fôlego, está cada vez mais caro, dá mau-hálito, estraga os dentes, incomoda os outros, queima os outros in the dancefloor, mas também te dá tempo para pensar, joga fumaça no seu cérebro e desanuvia as idéias, as ninas do cigarro acalmam, os cinco minutos out there te dão a chance de uma nova perspectiva, um novo respiro sujo e malcheiroso, uma segunda chance de não por tudo a perder, de não precipitar, uns instantes antes da aposta... no tempo de um trago, no tempo de um cigarro.

Vicio social, vicio psicomotor, mania, compulsão, WM 270 - Substance-related disorders... cigarro é tudo isso e sem dar brisa.

Um caretinha é um freio de arrumação.

Por: João Pedro

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Uma pequena intro.

O primeiro post desse espaço não deveria ser diferente em nenhum sentido. É apenas a explicação sucinta da proposta que vocês encontrarão por aqui.
Certa feita, eu e meu amigo Abraão Antunes, compartilhávamos um bom dia em nosso escritório ao ar livre - a famosa Praça do Relógio - na Cidade Universitária. Bem acompanhados por cigarrinhos vários e uma lariquinha suave, nos submetemos as tormentas daquilo que meu caro amigo João Pedro chama carinhosamente de "chuvas de parpites" e construímos uma idéia simples: a realização de uma empreitada editorial, cujo nome foi eleito na base da diferenciação do nome de uma coleção conhecida de todos.
Na real, havia mais idéias da nossa especulação editorial no ar, mas isso eu posso deixar para um outro dia.
A importância é só pontuar a escolha do nome e seu intuito.

O que deveria ser
tem a pretensão de compilar idéias acerca de um tema específico - assim como a famosa coleção supracitada - e trazer um novo conceito a este universo analisado. Simples, uma utopia!

De início, escolhemos o tema cigarro (já que estávamos fumando uns - ou alguns) como o carro abre alas da coleção. Durante os meses que se passaram, tentamos espalhar as idéias a nossos amigos para que selecionassem um tema e discorresem a respeito. Alguns temas como hinos de futebol, coquinho e dispnéia foram sugeridos e esperamos ver algum dia estas e outras "coisas" escritas por aqui.

Acho que deu pra sacar qual é a desse espaço, não?!
Bom, agora vamos ao que interessa!